sexta-feira, 4 de junho de 2010

7 Solidões

Que venha de fato
a pé ou a jato
catando os cacos que restaram de mim.

Que venha sem medo
sem gosto ou azedo.
Que toque o enredo de qualquer folhetim.

Que seja sofrido
aberto ou proibido.
Que seja entendido em grego e latim.

Que dure um bocado
sem culpa ou cuidado.
Que seja levado a nunca ter fim.

Amor aqui estou.
Amor aqui estou.

(Amor é o que restou).

terça-feira, 13 de abril de 2010

E assim continua...

Velas apagadas, um silêncio dentro de mim
Eu fico imaginando por que foi assim
Como está você agora? Será que foi o fim?
Minha doce criança, esteja sempre por aqui.

Descubra por favor o caminho para o paraíso
E me conte depois se tudo valeu a pena
Realidade dura, numa foto em preto-e-branco
Espera contínua de uma vitória inexistente.

Procuro o crescimento através de meus heróis
Tal qual o resultado: aqui estamos nós
Estou com saudades do meu urso-irmão
Seu desejo intacto: verdade ou não?

Abraça-me bem forte mesmo em pensamento
Assim me sinto seguro, triste contentamento
Procure a companhia dos anjos do céu
E busque sempre a paz, antes que caia o véu.

E por favor, minha cara
Olhe sempre por nós
Daí do alto, onde estiver
Onde sempre quisemos estar

A voar...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Soneto


Meu desejo é meio cego.
Meu espírito é bem maduro.
Eu finjo que me entrego.
E me sinto mais seguro.

Meu combustível é minha luta.
Minha verdade não é absoluta.
Mas toda história tem seu fim,
matando o pouco que resta de mim.

Meu corpo opaco,
meu espírito fraco,
me faz sangrar.

Como um barco sem rumo,
perdido no mundo,
me sinto sangrar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Agora como antes


Veja a luz tão cinza acesa.
Veja a rosa tão linda, presa.
Veja a menina que brinca só.
Eu ouço a canção, eu ouço a voz.

Quero o meu canto nas aldeias.
Quero o meu rastro nas areias.
Quero que seja como antes.
Quero poetas, eu quero errantes.

Uma toada na viola.
Uma caixinha de esmola.
Eu quero a paz de um rancho.
Eu quero Deus, eu quero um anjo.

Diga aos velhos amigos, companheiros antigos:
quero que seja como antes.
Como poetas. Como errantes.

Luiz Filipe Penido

Como uma velha lembrança


Tempo passado, às vezes criança

que leva a cinza da minha lembrança.
- Pare tempo, fique atento
a esta minha nova dança.
Tempo que mata, dor que maltrata
minha velha esperança.

Tempo amigo, às vezes vilão,
que leva consigo a dor do perdão.
Tempo que teima, saudade que queima
minha vã solidão.
Passado querido, lembrança de um amigo:
como estará meu irmão?

Saudade contínua, dor incessante
que passeia em mim com ar arrogante.
Tempo audaz que leva e não traz,
agora mais forte que fora bem antes.
E quanto a mim, estado ruim:
estado cortante de um velho errante.

Luiz Filipe Penido

Ad extirpanda


Senhor, conservai-me a memória
,
para que eu me lembre o quanto sou amado.
Todos os votos de vitória, diplomas mil.
Afinal, eu sou o futuro do Brasil.

Senhor, dai-me forças para lutar
contra esta vontade de ser feliz.
São suas regras e seus padrões
que me fazem dono do meu nariz.

Faça-me forte como um guerreiro
para sobrepor-me às minhas fraquezas.
Sobressaindo minhas virtudes,
serei feliz com certeza.

Mas antes de tudo, meu Senhor,
faça-me cego a tudo isto.
Pois, assim, sentirei orgulho
de ter certeza que ainda existo.

Luiz Filipe Penido